02 agosto 2006

Três - Seis - Um

Depois de quase 30 dias cuidando d'outras coisas, cá estou de novo para dar meus petelecos na peteca e alguns chutes em algumas tristes tendências observadas na Copa da Alemanha. Seguirei insistindo que o campo ficou pequeno demais para 10 jogadores na linha. Mas sei que se trata d'uma idéia que pode demorar séculos pra vingar. Enquanto isso, a gente tem que saber lidar com as regras atuais e, mais do que isso, tentar driblar as tristes tendências.

E qual é a mais comovente de todas as tristes tendências? A extinção do ataque e a consequente super-lotação do meio-de-campo. As duas finalistas, Itália e França, eram praticantes inveteradas do esquema 3-6-1. Céus... na época de ouro tínhamos 4 ou 5 jogadores de ataque. A era romântica tatuada em minha memória tinha 3 na linha de frente. Do final dos anos 80 para cá tivemos que nos contentar com 2. Agora só resta 1! Sei que parecerei ingênuo, mas se o grande objetivo do jogo é o gol, pq tá todo mundo reduzindo suas próprias possibilidades de vitória?

A resposta óbvia: medo de perder. Mesmo quando a Fifa valorizou a vitória, dando-lhe 3 pontos e não mais 2, ela não conseguiu reverter a tendência do cagaço. Mesmo quando o empate empurra as equipes para dramáticas prorrogações ou cobranças de pênaltis, raramente vemos um pingo de coragem e ousadia. Aliás, Alemanha X Itália só é considerado o melhor jogo da última Copa pq o técnico italiano ousou. Temendo os pênaltis e as artimanhas do Lehmann, lançou 3 atacantes contra a forte, alta e desengonçada defesa alemã. Levou a vaga com méritos. Mas, logo no momento seguinte, voltou com seu esquema amarelo (de covarde). Levou a Copa mas, e daí?

Agora, com a retomada do brasileirão, a tendência se concretiza. Palmeiras, Flamengo e mais alguns times estão adotando descaradamente os maus exemplos que viram na Alemanha. Mas estão funcionando!, vc diria. Sim, muito bem por sinal. O verde vem de 4 vitórias consecutivas. O Mengão levou a Copa do Brasil. Ou seja: podemos esperar mais e mais times eliminando uma vaguinha lá na frente. Que tristeza...

... Passível de revisão. Vejamos: fiquei curioso com o Ipatinga só no campeonato mineiro deste ano (ele foi campeão em 2005). Assisti alguns jogos, inclusive os 2 que eliminaram (que alegria!) o Luxa. A mobilidade do time e sua gana (natural) de atacar o tempo todo foi o que mais me chamou a atenção. Quem é o técnico mesmo? Ney Franco, funcionário do Cruzeiro e com currículo de principiante. Resolvi prestar atenção, mas mineiramente desconfiado. Minas tem mania de inventar falsas promessas, como Levir(ce) Culpi e afins.

Ney Franco assume o Flamengo, no lugar d'um técnico que até tava indo bem. Junto com ele seguiu o quarteto inteligente do Ipatinga (Minhoca, Leo, Diego e Paulinho). Aí fica fácil, vc diria. Sim, desde que ele pudesse contar com esses jogadores. Não foi o caso na Copa do Brasil. Ele tinha que se virar com o Mengo antigo, aquele mesmo que beirou a segundona no ano passado. E... quem diria que daquele mato ele tiraria tanto coelho?

Ao invés daquele papinho (gaúcho que se) auto-ajuda (volto ao tema oportunamente), Ney implantou um esquema de jogo. Prático, direto e o mais importante: ofensivo por natureza! Mas, caramba, ali em cima eu não tava dizendo que ele tbém adotou o 3-6-1? Então? Saca só:


Nos dois jogos finais da Copa do Brasil, contra o Vasco, o Ney Franco realmente adotou o 3-6-1. Colocou o Fernando como 3º zagueiro (de mentira - já explico), e só o Luizão no ataque. O gráfico aí de cima poderia ser usado para falar da Itália, por exemplo. Com o Zambrota (Léo Moura) e o Grosso (Juan) livres para apoiar, e um volante habilidoso e inteligente (redundância?) Pirlo (Jônatas) municiando os meias ofensivos, Camoranesi (R.Augusto) e Totti (Renato). Certo?

Quase. E é aí que o Ney Franco me surpreende. Vamos ver um desenho do Flamengo atacando. É mais ou menos assim:


O Ney chega a ter 7 caras atacando ao mesmo tempo. Na Copa, só seleções em momentos de desespero chegaram a tanto. No Flamengo da Copa do Brasil era coisa corriqueira, mesmo no 2º jogo contra o Vasco, quando tinha 3 gols de vantagem. Mas não se trata do sufoco pelo sufoco. Há toques de inteligência que o Renato (outro Gaúcho) não deve ter percebido até hoje:
  • Os dois laterais (ou alas, como queiram) não se limitam a ocupar sua faixa do campo. Em vários momentos (inclusive no gol do 2º jogo), eles vão para o centro, não raro ocupando a metade oposta (o Léo Moura na meia-esquerda, por exemplo).
  • A tendência é que seus marcadores tentem seguí-los, abrindo um espaço que é imediatamente ocupado pelos dois Renatos (meias).
  • A primeira variação (também amplamente utilizada nos dois jogos) sempre começa com o Jônatas, abrindo espaço pelo meio. Os dois meias ofensivos tendem a recuar um pouco, puxando seus marcadores. E se transformando em opções de passe quando o centro não é devidamente desocupado. Vale dizer: este Flamengo não tem nenhum volante "por natureza". E só o Toró joga um pouco mais preso.
  • Outra variação que explora os flancos do campo é a subida de um dos três zagueiros (! Angelim no 1º jogo e o Arroz no 2º). Ele passa nas costas do lateral e chega até a linha de fundo! Uma sacada genial que força o recuo de um atacante... coisa que o Edilson não fez, até pq era a única alternativa de contra-ataque que sobrava para o Vasco.
  • E como foi estranho ver que num dos contra-ataques (raros) do Vasco, o Léo Moura demorou mais de um minuto para voltar para seu campo de defesa. Tranquilo. Pq?
  • Pq há um revezamento entre os 6 que ocupam o meio de campo. O tal 'balanço' parece ser guiado pelo Toró e pelo Fernando (outra grata surpresa nas finais). O Renato que sobra lá atrás tem a única característica que não poderia lhe faltar nesse tipo de esquema: um sangue frio daqueles. Talvez ele leve uns vermelhos no brasileirão, enquanto o Flamengo evolui o esquema. Mas o cara é bom.
  • No gráfico ali de cima eu forcei um pouco a linha reta dos três que sobram no campo de defesa. Mas foi só para ilustrar o sentido de cobertura deles. Que não seria tão eficiente se os caras da frente não dessem o primeiro combate tão logo perdessem a posse de bola. Neste ponto, particularmente neste ponto, a participação do Luisão nos dois jogos foi vital. Mais importante até que sua maestria nas bolas altas.
Concluindo: Ney Franco recupera algo que há tempos o futebol brasileiro não faz. Pega uma boa idéia lá de fora e a reveste com o mais irreverente, criativo e ousado toque tupiniquim. De repente o 3-6-1 em suas mãos vira um 3-4-3, 3-3-4. E agora ele terá Sávio e o quarteto de Ipatinga para escalar. Não é que o Mengo pode voltar a sonhar alto depois de uns 15 anos? Que jóia.




Outra alegria pós-Copa é o 'meu' Mequinha. Buscando a segundona!
Fod@ tá o meu timão. Igualmente buscando a segundona...
Balança mas não cai não. A reação começa sábado... rumo ao penta! hehe

Eu volto em breve, com outras 'leituras' malucas de esquemas táticos (alternativos) e com os comentários sobre a escola gaúcha de técnicos e seu novo rebento: Dunga!
Eu não sabia que dava laranja nos pampas...


10 Comentários:

Anonymous Anônimo palpitou...

Oiiiiiiii vcs estão munitinhos nesse video hein,hehehehehe
Ninguém mais passa por aki pra falar oizinho,só eu...
Cruisssssss
Bjussssssss

3/8/06 10:49  
Blogger Anderson palpitou...

Só nóis!!!

Anderson

3/8/06 11:14  
Blogger Anderson palpitou...

Realmente o Flamengo deu um baile no "Hexa-Vice" Vasco da Gama, e o Jonatas merece sim a vaga na nossa renovada seleção!

4/8/06 13:44  
Anonymous Anônimo palpitou...

O futebol brasileiro esta muito pobre de talento mesmo.
E pensar que o Jonatas jogou recetemente contra o VEC Pelo Tombense.

7/8/06 08:04  
Blogger Anderson palpitou...

É, mas tem mais gente gostando do futebol do Jonatas, e começar no Tombense não é demerito, o que importa é pra onde se vai! Veja a matéria no Terra.

Técnico do Fla dá saída de Jônatas como certa. (http://esportes.terra.com.br/futebol/brasileiro2006/interna/0,,OI1090572-EI6568,00.html)

7/8/06 15:34  
Anonymous Anônimo palpitou...

o dia em que o sesi parou I
o que se viu quinta-feira na pelada do Ibis Cover foi história. o super time venceu todas as torcentas partidas que disputou no Horário. Um time de encher os olhos. Passes rápidos e envolventes, dibles desconsertantes, contra-ataques fulmimantes e lindos gols. Quem viu contará aos netos...

12/8/06 15:26  
Blogger Paulo Vasconcellos palpitou...

Humildemente tenho que confessar que era o 'ala canhoto' do Ibis Cover. Realmente foi um espetáculo pra ficar na memória de todos, vencedores ou perdedores.

Nas quadras mantenho outros momentos tatuados na memória: O gol que o Pelé não fez em 70 (driblando o goleiro sem tocar na bola), e um gol de letra no ginásio coberta da Mutuca, numa tarde sábado, jogando contra uns 'craques' de Três Curações.

Mas o Ibis Cover foi o melhor conjunto que vi em quadras até hoje!

A fila anda... quem tá "de fora"? próximo!!

12/8/06 15:31  
Anonymous Anônimo palpitou...

o dia em que Sesi parou III
A comparaçõa com o time dos sonhos norte-amricano de basquete é inevitável:
Scott Pipen = Henrique Pipen
Charles Barkley = Marcelo Barkley
Larry Bird = Nando Bird
Magic Johnson = Zé Johnson
Michael Air Jordan = Rubão "genial" Jordan

12/8/06 15:36  
Blogger Anderson palpitou...

Nando,

Por falar em lances inesquecíveis, tem também aquele gol do meio da quadra feito (por mim) na quadra do João Luis nos Campos Elíseos em cima do goleiro Helder Mesquita.

Golaço!

14/8/06 12:13  
Blogger Paulo Vasconcellos palpitou...

Vish Anderson... vc levantou a bola. Agora vai (pura maldade):

No teu golaço (nos idos de 86?!?), o chute saiu quase tão forte quanto aquele do Roger do Flu ontem... rs.

[]'s

14/8/06 20:05  

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